quarta-feira, 13 de abril de 2011

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13 de Abril de 2011 - 0h48

39 anos depois ainda há combatentes desaparecidos no Araguaia

Em 12 de abril de 1972 começou um dos episódios mais violentos envolvendo a ditadura militar iniciada no Brasil em 1964. Foi nesta data, que o Exército chegou à região de Xambioá, no norte de Goiás, hoje Tocantins para sufocar a resistência armada a ditadura organizada pelo PCdoB.

Os ataques aos combatentes do Araguaia duraram cerca de três anos, sendo necessárias três grandes campanhas dos militares para pôr fim à guerrilha, o que só aconteceu em dezembro de 1974. A repressão resultou em prisões, mortes e cerca de 70 guerrilheiros desaparecidos até hoje.

Segundo Haroldo Lima, diretor-geral da Agência Nacional do Petróleo (ANP), em 12 de abril começaram os conflitos, mas os movimentos, a preparação da guerrilha começou em 1966. “A ideia do partido na época, partiu do suposto de que todos os espaços de debates não armados existentes na sociedade brasileira - espaços políticos de oposição e de contestação ao regime limitar estavam fechados. Então só nos restou o enfrentamento armado. Dentro disso, nós optamos pelo caminho chamado guerra popular, que era de utilizar os caminhos de mais difícil acesso, onde as nossas forças pudessem se destacar, onde as forças do adversário ficariam imobilizadas, que é a região de mata do Brasil. Nesta região, nós imaginávamos que os grandes efetivos do Exército, tipo tanque, metralhadoras pesadas e aviões não poderiam ser usados. Assim eles precisariam entrar na mata, o que os tornariam mais enfrentáveis, digamos assim. Por essa razão nós fomos para a região do Araguaia”, explica o comunista.

“A nossa ideia era de desenvolvermos um trabalho junto ao povo, quando este trabalho já tivesse suficientemente amadurecido, já estivéssemos construído bases popular de resistência política, um elevado nível de conscientização deste povo, de organização deste povo e de que o próprio PCdoB tivesse bastante conhecimento, ai sim, nós imaginamos, que em isso acontecendo, imediatamente nós seríamos atacados e aí resistiríamos. Este que era o plano geral da Guerrilha do Araguaia. O que aconteceu foi que o Exército descobriu os nossos preparativos antes deles estarem completos, mas já estavam suficientemente desenvolvido a ponto de nós optarmos por resistir. E aí nós resistimos e o conflito se desenvolveu por mais ou menos três anos, obrigando o Exército Brasileiro a fazer três grandes incursões a área, a maior mobilização de campo já efetuada no país desde a Guerra do Paraguai, o que mostra que era uma resistência de envergadura”, lembra o presidente da ANP.

Momento importante

Para Haroldo Lima, entretanto, a guerrilha cometeu alguns erros. “Em nossa opinião, o maior erro aconteceu depois da segunda campanha, quando ela venceu a segunda campanha. Pois o objetivo do Exército era aniquilar os guerrilheiros e ele não conseguiu, nem na primeira, nem na segunda campanha, então nós vencemos. Entre a segunda e a terceira campanha, nós deveríamos ter percebido que eles viriam com mais força. A tática de guerrilha pedia que nós saíssemos daquela área, o que nós não fizemos, então quando a terceira campanha chegou, eles vieram com uma grande violência e brutalidade sobre nós, com os instrumentos desleais e ilegítimos, com prisões e todo tipo de tortura que você possa imaginar, com mortes, inclusive em corte da cabeça de guerrilheiros. No final, depois de algum tempo a guerrilha do Araguaia foi aniquilada”, disse.

“O que nós consideramos é de que a guerrilha do Araguaia contribuiu muito para o processo de finalização daquele processo de ditadura militar que existia naqueles dias. Não no sentido de derrotou a ditadura, porque isso não aconteceu, mas ela deu a sinalização para o regime militar de que eles venceram aquela resistência, mas venceram a um preço elevado. Passaram três anos para vencer aquilo e venceram, jogando o Exército em uma verdadeira guerra suja. Isso tudo era a indicação de que outras frentes começariam a aparecer e ele então resolveram desmontar aquele esquema deles, levando em conta também que os movimentos de resistência na cidade cresceram bastante”, ressaltou Lima.

“Hoje ao examinarmos o Araguaia, consideramos que foi um grande momento de glória do nosso partido. Mostrou que o nosso partido é um partido de luta, é um partido aguerrido, que em situação de extrema dificuldade está ao lado do povo em defesa da sua liberdade, da sua independência, para a construção da sua soberania. Nem que isto custe a vida da gente, nem que custe sacrificar-mos. Este é um ato de grande heroísmo. Este hoje é um dos feitos que mostra a identificação com o Brasil do Partido Comunista que dirigiu aquela guerrilha”, afirma Haroldo, que participou da resistência ao regime do militar, preso e torturado.

Desaparecidos

Para Lima, o processo de democratização do Brasil só será completo quando o Estado esclarecer o que aconteceu com os combatentes presos, mortos e torturados no Araguaia. “Acho que é uma debilidade do processo de democratização do Brasil. Nós ainda não tivemos forças para levar o governo a perceber que esta pagina da história da resistência armada, em particular da Guerrilha do Araguaia, é uma página que ainda não está virada. Que há uma lacuna que precisa ser preenchida. É preciso esclarecer o que aconteceu com os guerrilheiros, onde estão seus corpos. Esta é uma verdade que precisa ser esclarecida”, argumenta.

Esta opinião é compartilhada por Diva Santana, que até hoje busca saber o que aconteceu com a irmã Dinaelza Santana Coqueiro, uma das desaparecidas no Araguaia. “A falta de informações sobre o que de fato aconteceu e a dificuldade de acessar os documentos militares mostra que ainda estamos em um processo de construção da democracia no Brasil. Afinal, não há democracia se eu não tenho o direito de acessar os documentos que contam a história da vida de minha irmã. Isto mostra que estamos em eterno processo de construção desta democracia. Eu acho que a gente tem ainda que viver outros 25 anos para alcançar a plena democracia, que só é possível com o pleno acesso à verdade”, acrescenta a dirigente do Grupo Tortura Nunca Mais.

Para Diva, a criação da Comissão da Verdade, que tramita no Congresso Nacional só será válida se esclarecer todos os fatos envolvendo a ditadura militar. “Em minha opinião, a Comissão só será de verdade mesmo se esclarecer o que aconteceu, em que circunstância e onde estão os guerrilheiros.Como foram mortos? onde estão seus corpos? Porque a nação brasileira precisa saber o que aconteceu. Porque ao nos calarmos diante de fatos como estes, nós estamos patrocinando que hoje aconteça a mesma coisa. Assim é o caso da tortura, quem torturou e não foi punido. Hoje continua a mesma coisa. Então a Comissão da Verdade só será valida se esclarecer todas as coisas obscuras no regime militar. Eles torturaram, ocultaram cadáveres e até hoje não dizem, não falam e não mostram nenhum documento sobre isso”, concluiu Diva prestando uma homenagem a todos os combatentes do Araguaia.

De Salvador,
Eliane Costa

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